24 de dezembro de 2008

Coração

Rifa-se um coração 
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional 
que abre sorrisos tão largos que quase dá 
pra engolir as orelhas, mas que 
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e, 
se recusa a envelhecer" 
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta.

Clarice Lispector

7 de dezembro de 2008

viva os fogos

O mundo é isso – um montão de gente, um mar de foguinhos. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as demais. Não existem dois fogos iguais. Existem fogos grandes e fogos pequenos e fogos de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem se intera do vento, e gente de fogo louco, que deixa o ar cheio de faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumbram e nem queimam; mas outros ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhá-los sem tocar, e quem chega perto, se incendeia.
Eduardo Galeano


2 de dezembro de 2008

Papai Noel

Estou com o espírito natalino. É bem verdade que o dia foi um presente, só coisas boas, entre elas um Papai Noel. Pra quem acha que o velhinho só faz sucesso com as crianças, então eis uma crianças aqui encantada. Estava atravessando a Av. Independência, esquina com a Barros Cassal, ouvindo música no mp3, do outro lado um Papai Noel e duas noeletes distribuiram balas. Chegando ao outro lado, ele veio na minha direção e me deu duas balas e um sorriso. Era um daqueles velhinhos de verdade verdadeira, com barba de verdade, branquinha.
Fiquei surpresa e contente, e comecei a lembrando de outros natais. Minha sempre me conta que quando eu tinha 2 anos fomos na Padaria Brasil lá em NH, tinha Papai Noel lá na frente e ela me levou para coversar com ele e pegar balinhas, também me disse que eu deixei ela toda envergonhada, me grudei com toda a força na barba dela para ver se era de verdade... e não era. É por isso que eu valorizo muito os velhinhos de verdade verdadeira. Também lembrei de um natal na casa dos meus avós, em que o Papai Noel me trouxe de presente uma barraquinha do Sítio do Pica-Pau Amarelo, mas em troca tive que deixar meu bico com ele. Foi uma alegria e uma tristeza né.
Acho que o Papai Noel é importante na vida de toda criança, faz parte da fantasia. Esperamos que ele venha para realizar nossos sonhos. Acho o máximo a campanha dos Correios, onde as pessoas vão lá e pegam uma cartinha que alguma criança escreveu para o Papai Noel, realizam o desejo das cartas e entregam novamente nos Correios para que chegue até a criança o presente que o Noel mandou.

1 de dezembro de 2008

luzes para mim

Amo luzes de natal. Acho que as noites de final de ano ficam tão bonitas com as casas enfeitadas de pequenas luzinhas. Quando era criança me lembro que aproveitavamos as noites quentes de dezembro para passear pelo bairro e ver as casas enfeitadas com as luzes. Uma pena ser cada vez mais raro encontrá-las.
Na frente de minha casa tem um prédio antigo, beeemmm antigo. Da minha janela da sala, quando estou jogada no sofá tenho vista para a cobertura. Essa cobertura tem uma porção de plantas, é muito verde, pelo que consigo ver é um casal de velhinhos que mora lá. Na verdade dificilmente vejo alguém, até porque o verde não permite muito, há algum tempo vi alguém praticando tai chi chuan, achei massa.
Ontem os vizinhos dessa cobertura me presentearam, colocaram um lindo conjunto de luzes enfeitando as plantas, e que eu posso ver do meu sofá. Achei que foi pra mim, ou no máximo para os vizinhos do quarto andar no meu prédio, uma vez que somente nós podemos vê-las iluminando a noite.

27 de novembro de 2008

Potes de boa sorte

Sempre gostei de doces, cresci comendo os doces mais doces, os doces mais divinos, tudo por conta do hobbie da minha mãe. Acostumei meu paladar a douçura. Porém, gosto de dois doces em especial, que por sinal minha mãe não gosta e por isso nunca faz: ambrosia e arroz doce.
Eis que num dia só, fora de casa, em lugares distintos, de forma supreendente sou presenteada pelo acaso. Na manhã uma caneca de arroz doce. Na tarde ambrosia! Ahh, que delícia. Comi até me fartar.
O dia foi realmente valioso, só pode ser sinal de muita boa sorte, de prosperidade. Também, além disso saí de casa feliz e voltei madrinha. Ainda mais feliz.

25 de novembro de 2008

Objeto voador

Estava eu ontem a noite atirada no sofá, no aconchego do lar, descansado do meu dia quando vejo algo voando próximo as janelas do prédio. Seria um pássaro? Um avião? O Superman? Não! Era uma coisa branca e grande, voando. Uma sacola de supermercado. Que fim da picada!

22 de novembro de 2008

pensar a vida

Fui dormir meio esquisita ontem, com preocupações justas até, mas que me perturbaram o sono mais do que deviam. Hoje acordei ainda meio impactada por uma noite mal dormida, mas fui fazer algo que amo fazer aos sábados pela manhã, fui à feira. É aquela feira que tem todos os sábados pela manhã no Largo Zumbi. A-do-ro! Acho que é bom para os olhos ver tanta coisa colorida. Tomates bem vermelhos contrastando com pimentões bem verdes, na banca seguinte as verduras que formam uma paleta de cores no tom esverdeado. Amo o cheiro da banca de cocada, acho fantástica a banca de cereais também aquela com cogumelos de variados tipos. Gosto do povo que freqüenta a feira, do sorriso dos feirantes gritando as ofertas, e creio que é na feira onde o meu dinheiro mais rende. Com parcos reais volto para casa cheia de sacolas. Me sinto rica.

O dia tava meio insosso, cheguei em casa e a chuva não tardou a cair! Pensei: putz, mais um final de semana feio. Resolvi dormir para compensar o não sono da noite e aproveitar o “climinha” mais ou menos. Eis que quando acordo havia um novo dia. Sol alto lá fora, um vento bom soprando. Peguei meu chimarrão, meu mp3 e fui curtir o desfile de cachorros na Redenção. Não demorou apareceu uma amiga! Ah que coisa boa...não sei descrever o quanto foi bom encontra-la. Os grilos diminuíram e até o silêncio entre nós era confortante. Sumiram-se os grilos, que deram lugar ao riso. Ahhh! Que noite feliz!

21 de novembro de 2008

Bem vinda!

Nasceu a Aimê! A única menina no grupo dos recém nascidos filhos de amigos meus. Depois do Arthurm, do Pedro, do Nicolas e do Theodoro foi a vez dela. Feito noiva, que sempre chega bem depois da hora na igreja, hoje cedo acabou com a espera ansiosa dos pais. Agora ela tá aí, com 48cm e 3.400g, linda e com saúde esperando as coisas boas desse mundo.
Que seja bem vinda a nova geração!

20 de novembro de 2008

patuá


Quase todas as vezes que eu abandono esse blog é porque não quero dividir nada, ou porque tenho medo. O que mais me causa medo é a inveja. Um blog por mais que seja privado, basta mais uma pessoa saber para ser público, tá na rede, qualquer um pode ver, não há como se proteger nesse espaço. Uso isso aqui porque adoro escrever coisas para mim mesma, para os meus amigos e nessas escrituras todas muitos desconhecidos já passaram aqui (é o que diz o google analytics), mas tem vezes que não me sinto à vontade, percebo o mal olhado. Ninguém gosta de olho gordo, eu odeio. Odeio ser vigiada por quem não me inspira confiança. Portanto, se lhe servir o chapéu, vá de retro! Furo teu olho!

9 de novembro de 2008

Apaixonante

Me encantei com isso hoje! A trilha é fantásticamente envolvente.

30 de outubro de 2008

Os Novos Baianos

Mistério do Planeta
Composição: Galvão - Moraes Moreira

Vou mostrando como sou e vou sendo como posso. Jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos.

E pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto. E passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas.

Passado, presente, participo sendo o mistério do planeta.

O tríplice mistério do "stop", que eu passo por e sendo ele no que fica em cada um.

No que sigo o meu caminho e no ar que fez e assistiu. Abra um parênteses, não esqueça que independente disso eu não passo de um malandro. De um moleque do Brasil, que peço e dou esmolas.

Mas ando e penso sempre com mais de um, por isso ninguém vê minha sacola.

21 de outubro de 2008

20 de outubro de 2008

Depois de tudo, já era sábado. O homem do tempo insistia em errar a previsão. Desta vez estávamos nós três sentados naquela área sem ela, não me lembro de ter sentado ali sem ela.

Nós sempre nos acomodamos naquela áreazinha, nos dois degraus, mas desta vez éramos apenas nós. Não tinham as cadeiras de vime, nem o pote de doces e nem o chimarrão, nada específico pra ficar na volta.

Mas tudo bem, no céu também não tinha sol, abaixo da árvore da frente não havia mais flores, aquele céu carregado, aquele vento gelado. Nosso olhar pro nada, o som do creedence no violão e em nossos corações um vão.

18 de setembro de 2008

Viver

Lendo Quintana, encontrei um poema que expressa um pouco de como me sinto hoje!

Viver

Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros, pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,
Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
e voar,
cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!

17 de setembro de 2008

16 de setembro de 2008

Parabéns pela coragem

CORAGEM, s. f.Firmeza; energia diante do perigo; audácia; ousadia. Co.ra.gem

Essa é a definição de coragem, segundo Silveira Bueno no mini dicionário da língua portuguesa (editora FTD).

Pra mim coragem é uma força que vem de dentro, é quase que como um vulcão, onde as lavras saem das entranhas dos nossos sentimentos mais íntimos. Coragem é deixar transbordar a vontade, o desejo adormecido. É encarar o que atormenta, olhar nos olhos do problema e lançar uma aposta.

Coragem é desafiar os outros e a si mesmo, é dizer sim e dizer não. Coragem é amar mais do que se amou antes. É corajoso quem se aceita, se critica e quem é orgulhoso. Tem coragem quem corre atrás do prejuízo, dos amigos, dos amores, dos sonhos.

Admiro quem tem coragem.

9 de setembro de 2008

8 de setembro de 2008

O essencial é invisível aos olhos


Passava no SBT quando eu era criança o desenho do Pequeno Príncipe, amava olhar. Ele vivia num planeta só dele, amava uma rosa, viajava levado pelos pássaros e cuidava dos seus vulcões mantendo-os sob controle.

Quando cursava a terceira série resolvi que queria ler o Pequeno Príncipe, tive que reservar na biblioteca da escola, muitas crianças queriam o mesmo livro. Lembro como se fosse ontem como me diverti, eu lia deitada na rede na varanda da casa da minha madrinha, pra onde eu ia todas as terças feiras.

Na época não me preocupei em decifrar as entrelinhas. Mas, nesse final de semana caiu a ficha! Nós amamos as pessoas com os problemas e defeitos que elas têm, igual o príncipe ama a rosa cheia de espinhos. A gente ama ver as estrelas, os cometas, sonha e faz planos e a gente se esforça pra manter sob controle nossas emoções, nossos vulcões, barramos aquilo que com freqüência devíamos deixar sair. Me caiu a ficha, porque o essencial é invisível aos olhos! Falam os sorrisos, o sol, a voz e os poros ainda que não se possa ver. Isso é o essencial.

Viva o gênio Saint Exupéry

3 de setembro de 2008

vento só

Hoje tô sem vontade de falar. Fiquei sozinha na praça sentindo o vento gelado e úmido na pele, a esperança era poder sentir algo diferente.
Tinha uma quadra, uma rua, uma praça, uma rua, uma quadra. Quando as coisas estão do jeito que eu não gosto, quando tenho vontade de fugir só consigo pensar nesse trajeto. Às vezes não sei se o caminho é só esse, duas quadras. Será a nossa distância 2 km? ou duas voltas ao mundo, quem sabe?
Convidei pra sentir um vento bom que soprava, mas fiquei ali sentindo sozinha. Queria ficar tão leve ao ponto do vento me soprar, de levar pra bem longe daqui, mesmo que só por hoje.
Talvez fosse melhor eu ficar aqui, e o vento levar pra longe tudo aquilo que está me perturbando. Percebi que hoje a solidão é a melhor companhia.

26 de agosto de 2008

A culpa é do Fidel

Quebrei o jejum, fui ao cinema e a culpa é do Fidel. Segunda-feira, última sessão, uma sala com cinco pessoas, uma cadeira nada confortável, uma tela imensa e uma paz interior in-des-cri-tí-vel.

O filme é ótimo com “O” maiúsculo. A protagonista só tem nove anos, ela come frutas com garfo e faca de forma muito habilidosa e é a criança mais expressiva que já vi no cinema.

É impressionante como as crianças entendem o mundo de forma simples, uma pena que o sistema capitalista já nasça muito bem explicado na cabeça delas, é um comércio! Ainda bem que existem os vermelhos barbudos que se esforçam para dividir uma laranja em pedaços iguais com as próprias mão, ainda que isso seja difícil para quem come com garfo e faca.

24 de agosto de 2008

Nós mulheres

Ser mulher quer dizer fazer parte de um grande e complexo sistema que conjuga hormônios ocilantes com vaidade, muito amor ou muita raiva, muita calma ou muita tensão e mais uma porção de ambiguidades.
Tem dias que eu mesmo tenho dificuldade de entender o que quer dizer o que estou sentindo ou querendo. Acho a tarefa de se auto-decifrar um processo demorado e que exige muito estudo para que tenhamos o "auto-respeito".
Estava navegando agora mesmo e encontrei no blog da jornalista Leila Ferreira um texto ótimo sobre consumo, ela escreve muito bem sobre o nosso mundo, é uma estudiosa de nós mesmas. Segue aí:

COMPRAR, COMPRAR, COMPRAR
Um amigo meu chama de “impetus adquirintis” a atração fatal que nós, mulheres, temos pelo ato de comprar. Sei que há exceções – existem mulheres que odeiam fazer compras. Só que até hoje nunca fui apresentada a nenhuma delas. As que eu conheço (e aí me incluo, claro) são capazes de adquirir desde uma roupa que nunca vão usar até um kit de escovas de dentes para hóspedes que jamais irá receber (mas que estava em promoção bem ao lado do caixa da farmácia).

Agora que eu tenho tentado organizar minha vida entre minha casa em Araxá e o micro-apartamento onde moro em São Paulo, fico vendo quantas coisas inúteis têm ocupado espaço nos meus armários, minhas gavetas, debaixo da minha cama, atrás das portas – enfim, estou cercada por objetos que comprei simplesmente porque na hora não resisti – o “impetus adquirintis” falou mais alto e agora eles me acompanham e me olham com aquela cara de “quê que eu estou fazendo aqui nesta casa?”. É um olhar de quem está se sentindo abandonado e, ao mesmo tempo, me reprova pela compra impensada. Afinal, aquele brinco que eu nunca usei ou aquele sapato que jaz, empoeirado, no fundo do armário poderiam estar passeando por aí e se divertindo, se tivessem sido levados por uma compradora menos impulsiva ou mais ajuizada.

Condenados ao ostracismo, nas minhas duas casas estão: dezenas e dezenas de batons cor-de-boca (será que eu não sei escolher ou eles, num gesto de maldade, mudam de cor assim que chegam na minha casa?); blusas que não têm nada a ver com meu estilo (às vezes acho que compro roupas pras mulheres que eu fui em vidas passadas); cremes anti-idade que só usei uma vez (morro de preguiça de lutar contra a idade); calcinhas e soutiens que na hora da compra achei sensuais (e agora vejo que, acima de tudo, são desconfortáveis); brincos e colares num estilo mais “cheguei” (e hoje sei que sou irremediavelmente básica). Enfim, não sei por que levei pra casa essa coleção de coisas sem qualquer função que, na hora da compra, me pareceram essenciais, irresistíveis, e agora não encontram lugar na minha vida, como se fossem um homem que eu deixei de amar.

Numa sociedade que consome com cada vez menos discernimento e mais voracidade, corremos o risco de entulhar as gavetas e deixar a alma vazia. Olho essas roupas que não têm meu cheiro, esses batons que nunca mancharam uma camisa, essa bolsa que nunca saiu de casa – tantos objetos sem história – e sei que, definitivamente, o buraco fica mais em cima. Ou, quem sabe, num outro armário.

8 de agosto de 2008

as compras e as pessoas

Uma vez vi uma matéria na TV que falava sobre o lixo das pessoas, que era possível identificar o perfil e o estilo de vida de cada um só olhando aquilo que se joga fora. Ontem de noite na no supermercado olhei para alguns caixas enquanto esperava na fila e passei a imaginar como era a vida de algumas pessoas.

Quando vem um carrinho cheio a gente logo se pensa que deve ser para abastecer uma família enorme, daquelas que reúne todos ao redor de uma mesa imensa. Mas as pessoas que vão no mercado e compram poucos itens, o que é possível saber delas?

No caixa ao lado direito, uma guria tão jovem como eu, levava um pacote de papel higiênico simples, algumas coisas de comer que nem dei muita atenção e um montão de produtos de limpeza. Daí fiquei pensando que ela deve ter se mudado a pouco, pelo perfil da comida talvez não tenha geladeira ainda, e mais, o apartamento novo deve estar super sujo.

No caixa do outro lado estava um senhor de uns 50 anos mais ou menos, ele estava levando um suco de laranja natural, couve, umas frutas, dois pacotes de lingüiça calabresa e o que mais chamava a atenção era um baita salmão congelado, subia a altura da cabeça da moça do caixa. Talvez esse senhor tivesse de aniversário. Acho que vai dar um jantar bem regado pra família e para os amigos. É bem provável que tenha uma situação econômica boa, ou pelo menos melhor que a minha, afinal de contas não é todo mundo que pode comprar um salmão, ainda mais um daquele tamanho.

Atrás de mim um casal que beirava os 30 anos, no cesto deles um kilo de arroz, um litro de leite e um pacote de bolacha Maria. Olhei e imaginei que a mulher pudesse estar grávida, quem sabe, talvez ela quisesse comer um arroz de leite ou uma “papinha” de bolacha mesmo.

Isso é muito esquisito, talvez se eu ganhasse a vida escrevendo passaria mais tempo no supermercado vendo o que as pessoas compram para me inspirar a criar histórias para cada carrinho de compras. Poderiam sair histórias melancólicas, de pessoas idosas, que moram sozinhas, que compram tudo diet e em pouca quantidade, ou quem sabe daria pra escrever sobre um churrasco feito por jovens, que encheram os carrinhos de carne, sal e cerveja. Como seria esse churrasco? Como seriam os convidados desse churrasco? Dá um pano pra manga isso... E também tem outra coisa, é bem melhor ver o que sai do supermercado do que ver aquilo que vai pro lixo.

Eu o que comprei?! Será que alguém olhou pro meu cesto? Pensa na história, depois me conta. Comprei: um pacote de papel higiênico personal, uma caixa do chocolate Sem Parar, uma bandeja de yogurt Activia, um pacote de biscoito Bono sabor doce de leite, um cream cheese philadelphia e duas latas de tomates sem pele.

29 de julho de 2008

Bom dia

Chove em Porto Alegre desde domingo. Às vezes a gente gosta de chuva. É bom pra dormir ouvindo aquele barulhinho no telhado ou olhar pela janela as gotas escorrendo céu abaixo. Triste é que chove sem parar, e hoje é terça. Ah que difícil foi me desvencilhar das cobertas alheias e quentinhas hoje cedo. Depois do vinho vinagrete da noite anterior, o macarrão importante, do desfile de modas, das conversas de outra geração. Aquela chuva lá de fora era um desaforo.

Bem, não me restava outra coisa a não ser encarar um chuveiro, vestir as botas cano longuíssimo, dessas apropriadas pra enchente, tipo aquelas dá década de 40, que deram origem ao muro da Mauá.

Já durante o banho, a água com força que ia descendo cabeça abaixo e descotinava uma idéia que achei genial para um dia que se apresentava assim. Café, suco, bebe logo e prepara o chimarrão para viagem. Entramos no carro eu e a Titi. Trajeto sul ao centro, centro quase que central no nosso cotidiano. Na arrancada ainda lamentamos não estar livres para passar um dia completamente imersas no aquário, simplesmente fazendo nada. Duas quadras se passaram, resolvemos colocar Chico pra cantar aos nossos ouvidos.

Ahhhhhh... Chico canta muito, cantou primeiro roda viva e “o tempo rodou num instante as rodas do meu coração”. Aquela música desceu como um pedido de desculpas pelo dilúvio. Mais uma sinaleira e um chimarrão, uma reverencias ao mestre malandro. Dois sorrisos, uma sensação de paz do tamanho do mundo. Depois desandou a cantar “desperando, parada, pregada na pedra do porto. Com seu único velho vestido, cada dia mais curto, laiá, laiá, laiá, laia” e nós acompanhamos o laiá, laiá...

- adoro ouvir esse ritmo luzitano nas músicas do Chico.
- Cris, tu já foi num show dele?
- Não.
- Bah guria, também nunca fui. Mas quero ir, mesmo que custe uns 500 reais, depois ele morre e a gente perde de ver o cara.
- Certo. Vamos ficar ligadas!

Expressei minha sensação de paz! Bom diaaaa!

17 de julho de 2008

Manuela 65



Bah, mais uma vez eu abandonei isso aqui. Droga! Juro que não era a intenção.
A intenção mesmo era colocar a campanha da Manuela na rua. Foi nisso que eu dediquei minhas horas do dia e da noite. Nos úlitmos 15 dias dormi pouquíssimo e trabalhei muitíssimo, casa de perna pro ar, adeus aulas de pilates...
O dia 06 foi um sucesso, tinha uma grande expectativa, mas a redenção mesmo foi uma semana depois ( 13/07) quando a Zero Hora e o Correio do Povo publicaram as primeiras pesquisas dessa eleição. A pesquisa foi uma espécie de feed back da energia aplicada, é um sopro novo nas velas do barco, e isso me deixa muito feliz.

Aí vai uma pequena amostra do que a gente tem feito. Tem uma equipe “arretada” aqui fazendo as coisas contecerem. Mais coisas no site www.manuela65.com.br

21 de junho de 2008

As fotos que fiquei devendo

Um parque é sempre melhor do que uma prisão
Um dos prédios do antigo Carandirú que ainda está de pé
Estação Carandirú - Vista para o Parque da Juventude
Esse é o Miro, que comentei no post anterior
Aula Magna com Renato Rabelo

13 de junho de 2008

Congresso Nacional da UJS - São Paulo

Estou em São Paulo, mais precisamente escrevendo de dentro de um telecentro do Parque da Juventude, local onde acontece o 14º Congresso da União da Juventude Socialista. Vale dizer que este parque foi construído onde funcionava o Carandirú, onde 111 jovens morreram assassinados. Alguns prédios foram dinamitados e dois continuam de pé, e eu dentro de um deles agora. Nossa, uma "vibe" muito estranha pensar que aqui dentro aconteceu uma chacina...
Bem, mas o que eu quero mesmo dizer é que o Congresso da UJS tá massa demais. Quase todos os estados da federação já chegaram aqui. Hoje pela manhã participei do grupo sobre a Democratização da Mídia, que teve como palestrante o genial Altamiro Borges. Ele levantou inúmeros pontos que merecem nossa atenção, um deles é o fato de usar espaços como esse blog para divulgar nossas idéias, para dar força aos meios contra hegemônicos. Ele reforçou muito o fato de valorizar a produção militante porque ela carrega consigo o sentimento popular de indignação. Adorei quando ele disse que temos que pegar pesado com os estudantes de jornalismo nas universidades pelo BR a fora, não é possível que as pessoas vendam a alma, que tenham como referência o jornalismo feito pela rede Globo. Resumindo: ele deu um pau! Bom demais.
Queria escrever mais, acabei de sair da aula magna com o Renato, mas meu tempo tá acabando aqui no telecentro. Fico devendo as fotos pro post seguinte.

10 de junho de 2008

Blog da Gi


Ontem à noite fui no Santíssimo prestigiar a minha amiga Gisele, que lançou seu blog com a proposta de ser um canal aberto para o debate da situação da juventude e da cidade de Porto Alegre. A semana começou bem, aproveitei pra matar a saudade da Gabi que tá "TCCsendo", da Fê e também do Mr. Djedá que há muito não via. Sucesso Gi!


O silêncio - Parte 2

Pensando cá com meus botões e pós período TPM, consegui definir melhor o que é o silêncio. Cheguei a conclusão que a sensação se aproxima do sentimento dos entes queridos dos desaparecidos. Pessoas que somem do mapa, desaparecem do nada.
Seja qual seja o tipo do crime, tipo os desaparecidos políticos, ou as pessoas que simplesmente sairam um dia de casa e nunca mais voltaram, deixaram em que os ama o silêncio. Sim, não há respostas para saber onde estão, ninguém fala nada. Não se encontra o corpo. É a dúvida entre a vida e a morte.

O silêncio é como o corpo que não se encontra, que não se tem notícias, que não é possível enterrar para poder seguir a vida em paz.

6 de junho de 2008

Tentantando romper o silêncio! (O Silêncio - Parte 1)

O silêncio é o pior de tudo. No silêncio a gente imagina qualquer coisa porque as coisas não são ditas. O silêncio deixa a dúvida, a prissão, um elo rídiculo com o passado. O silêncio é pior do que a briga, do que a raiva. O silêncio é foda!
Tô tentando romper esse maltito silêncio. Preciso de coragem para vencer a covardia.

5 de junho de 2008

Ensinar

Ontem à noite fui dar uma oficina de Corel Draw na Semana de Comunicação da Unisinos. Eu nunca tinha dado uma oficina de corel pra tanta gente, participaram 28 alunos, a lotação da sala.
No princípio fiquei um pouco nervosa, a turma era de pessoas na mesma faixa etária que eu, alguns até mais velhos, isso me deu um certo pânico.Comecei a aula falando da barra de ferramentas lateral, ah que barra! Ali tem várias coisas legais, desde os comandos básicos até efeitos de formas como o smille, o coração, canetas com pré definições de bolhas de sabão etc. Esse tipo de descoberta que as gurias geralmente gostam muito, e como eram a maioria eu ouvia os sussuros "ah, que massa", acho que foi isso que senti quando aprendi a usar o corel lá em 1999.
O mais bacana disso tudo é que era uma turma sem contato nenhum, ou quase nenhum, com o software, tudo que eu falava era realmente novo. Deixei com que eles fizessem alguns exercícios para não esquecer os comandos. Fui solicitada a ir solucionar algumas dúvidas no micro de alguns.
A parada mais legal da noite foi a sensação de atenção, que ontem se voltava pra mim. Estavam ali pessoas que realmente dejesam aprender. Alguns ficaram tirando dúvidas até o apagar das luzes pela monitoria da sala. Ouvi várias declarações legais, o pessoal falando "ah, agora entendi como se faz", depois da aula me senti ótima. Aliás, muito melhor do que o meu dia todo, que foi tomado por mal humor e tristeza pré TPM. Entrei no carro da Unisinos (sim, tinha um carro que me pegou em casa e depois me devolveu) e fiquei pensando que dar aula é uma coisa muito legal, deve ser por isso que os professores que ganham salários tão baixos ainda continam em sala de aula. Esse negócio dá barato!

4 de junho de 2008

novos sonho de consumo

Morar sozinha, ser dona de casa e do nariz trouxeram algumas mudanças. As vitrines das lojas do shopping estão menos atraentes, em compensação, as engenhocas domésticas estão sempre chamando atenção, tipo: carrinho de feira. Sempre achei uma coisa muito de "velho", já hoje, bah! Como eu seria mais feliz sendo a proprietária de um. Bisbilhotando um site dessas coisas que os gênios ou preguiçosos pensam pra deixar a vida mais prática, ou simplesmente mais bonita, encontrei uma torradeira linda. É possível deixar escritos no pão. Ela vem com uma caneta onde dá pra escrever um textinho que depois é impresso na torrada. Imagina poder escrever um bom dia no pão, uma frase de sorte, uma declaração de amor?! Fantástico!!!

28 de maio de 2008

Congresso da UJS

O Congresso deve bombar demais nesse final de semana. É isso que vem consumindo quase 100% da minha energia diária.

26 de maio de 2008

Amor sem fronteiras

Abandonei o blog por quase seis meses. Eis o fim do jejum. Por outras tantas vezes pensei em escrever, cheguei até a ensaiar algumas palavras, mas nada que meu senso achasse realmente importante publicar.

Desde o início do ano até agora aconteceram uma porção de coisas, um ano novo maravilhoso, um carnaval fantástico, novos rumos profissionais. Saí de casa. To vivendo a experiência do ser sozinho. Hoje tenho falado menos de bolsas, roupas e sapatos e mais de preços de supermercado. Valorizo mais os preços baixos da feira do que os de uma liquidação em qualquer boutique.

Ainda é cedo pra dizer, mas acho que estou crescendo. Durante muito tempo eu persegui o verbo “realizar”, pra mim realizar é prazer, fantasia. Não sou nem capaz de descrever o que sinto quando realizo coisas. O ato de canalizar energias em torno de algo e esse “algo” dar certo me traz a sensação de plenitude, de que a vida vale a pena.

Eu só estou aqui escrevendo isso porque acabo de levantar do sofá motivada. Passou a pouco no canal 43 o filme Amor sem fronteiras, com Angelina Jolie e Clive Owen. Até acho que deve ser meio velho, bem, mas eu só vi agora e como estou meio inclinada a falar de amor resolvi falar disso. O filme me comoveu. Não tanto pelas missões de salvamento na Etiópia ou na Chechênia, que de fato são um punhal na nossa mesquinha vida diária, mas pelo quanto alguns poucos dias na vida da gente se arrastam e fazem sentimentos bons brotarem feito um vulcão. Tem algumas coisas que durariam anos para chegar a esse nível de erupção, porém isso não se explica. Quanto tempo a gente demora pra amar alguém? Quanto tempo se precisa para amar um filho? Um animal? Um homem? Uma mulher? O amor não tem velocímetro onde diz que é proibido amar a 80, ou a 100km. Ainda bem que não tem lei!

A Angelina está divina como quase sempre, mas diferente de todos os filmes em que se espera um final feliz da moçinha, nesse caso não foi possível. As frustrações acontecem e aquela lavra vulcânica tem seu ápice, e nesse caso, muito infelizmente, falo por mim, foi barrada por um elemento que luta para esfriá-la.

Não se sabe quanto tempo às cinzas desse vulcão irão pairar sobre os dias, nem sabemos até onde elas irão alcançar. Porém é certo que agora o vulcão passa por refluxo, buscando forças para uma nova erupção. O amor sempre vale a pena.

Espero aparecer mais aqui!