26 de agosto de 2008

A culpa é do Fidel

Quebrei o jejum, fui ao cinema e a culpa é do Fidel. Segunda-feira, última sessão, uma sala com cinco pessoas, uma cadeira nada confortável, uma tela imensa e uma paz interior in-des-cri-tí-vel.

O filme é ótimo com “O” maiúsculo. A protagonista só tem nove anos, ela come frutas com garfo e faca de forma muito habilidosa e é a criança mais expressiva que já vi no cinema.

É impressionante como as crianças entendem o mundo de forma simples, uma pena que o sistema capitalista já nasça muito bem explicado na cabeça delas, é um comércio! Ainda bem que existem os vermelhos barbudos que se esforçam para dividir uma laranja em pedaços iguais com as próprias mão, ainda que isso seja difícil para quem come com garfo e faca.

24 de agosto de 2008

Nós mulheres

Ser mulher quer dizer fazer parte de um grande e complexo sistema que conjuga hormônios ocilantes com vaidade, muito amor ou muita raiva, muita calma ou muita tensão e mais uma porção de ambiguidades.
Tem dias que eu mesmo tenho dificuldade de entender o que quer dizer o que estou sentindo ou querendo. Acho a tarefa de se auto-decifrar um processo demorado e que exige muito estudo para que tenhamos o "auto-respeito".
Estava navegando agora mesmo e encontrei no blog da jornalista Leila Ferreira um texto ótimo sobre consumo, ela escreve muito bem sobre o nosso mundo, é uma estudiosa de nós mesmas. Segue aí:

COMPRAR, COMPRAR, COMPRAR
Um amigo meu chama de “impetus adquirintis” a atração fatal que nós, mulheres, temos pelo ato de comprar. Sei que há exceções – existem mulheres que odeiam fazer compras. Só que até hoje nunca fui apresentada a nenhuma delas. As que eu conheço (e aí me incluo, claro) são capazes de adquirir desde uma roupa que nunca vão usar até um kit de escovas de dentes para hóspedes que jamais irá receber (mas que estava em promoção bem ao lado do caixa da farmácia).

Agora que eu tenho tentado organizar minha vida entre minha casa em Araxá e o micro-apartamento onde moro em São Paulo, fico vendo quantas coisas inúteis têm ocupado espaço nos meus armários, minhas gavetas, debaixo da minha cama, atrás das portas – enfim, estou cercada por objetos que comprei simplesmente porque na hora não resisti – o “impetus adquirintis” falou mais alto e agora eles me acompanham e me olham com aquela cara de “quê que eu estou fazendo aqui nesta casa?”. É um olhar de quem está se sentindo abandonado e, ao mesmo tempo, me reprova pela compra impensada. Afinal, aquele brinco que eu nunca usei ou aquele sapato que jaz, empoeirado, no fundo do armário poderiam estar passeando por aí e se divertindo, se tivessem sido levados por uma compradora menos impulsiva ou mais ajuizada.

Condenados ao ostracismo, nas minhas duas casas estão: dezenas e dezenas de batons cor-de-boca (será que eu não sei escolher ou eles, num gesto de maldade, mudam de cor assim que chegam na minha casa?); blusas que não têm nada a ver com meu estilo (às vezes acho que compro roupas pras mulheres que eu fui em vidas passadas); cremes anti-idade que só usei uma vez (morro de preguiça de lutar contra a idade); calcinhas e soutiens que na hora da compra achei sensuais (e agora vejo que, acima de tudo, são desconfortáveis); brincos e colares num estilo mais “cheguei” (e hoje sei que sou irremediavelmente básica). Enfim, não sei por que levei pra casa essa coleção de coisas sem qualquer função que, na hora da compra, me pareceram essenciais, irresistíveis, e agora não encontram lugar na minha vida, como se fossem um homem que eu deixei de amar.

Numa sociedade que consome com cada vez menos discernimento e mais voracidade, corremos o risco de entulhar as gavetas e deixar a alma vazia. Olho essas roupas que não têm meu cheiro, esses batons que nunca mancharam uma camisa, essa bolsa que nunca saiu de casa – tantos objetos sem história – e sei que, definitivamente, o buraco fica mais em cima. Ou, quem sabe, num outro armário.

8 de agosto de 2008

as compras e as pessoas

Uma vez vi uma matéria na TV que falava sobre o lixo das pessoas, que era possível identificar o perfil e o estilo de vida de cada um só olhando aquilo que se joga fora. Ontem de noite na no supermercado olhei para alguns caixas enquanto esperava na fila e passei a imaginar como era a vida de algumas pessoas.

Quando vem um carrinho cheio a gente logo se pensa que deve ser para abastecer uma família enorme, daquelas que reúne todos ao redor de uma mesa imensa. Mas as pessoas que vão no mercado e compram poucos itens, o que é possível saber delas?

No caixa ao lado direito, uma guria tão jovem como eu, levava um pacote de papel higiênico simples, algumas coisas de comer que nem dei muita atenção e um montão de produtos de limpeza. Daí fiquei pensando que ela deve ter se mudado a pouco, pelo perfil da comida talvez não tenha geladeira ainda, e mais, o apartamento novo deve estar super sujo.

No caixa do outro lado estava um senhor de uns 50 anos mais ou menos, ele estava levando um suco de laranja natural, couve, umas frutas, dois pacotes de lingüiça calabresa e o que mais chamava a atenção era um baita salmão congelado, subia a altura da cabeça da moça do caixa. Talvez esse senhor tivesse de aniversário. Acho que vai dar um jantar bem regado pra família e para os amigos. É bem provável que tenha uma situação econômica boa, ou pelo menos melhor que a minha, afinal de contas não é todo mundo que pode comprar um salmão, ainda mais um daquele tamanho.

Atrás de mim um casal que beirava os 30 anos, no cesto deles um kilo de arroz, um litro de leite e um pacote de bolacha Maria. Olhei e imaginei que a mulher pudesse estar grávida, quem sabe, talvez ela quisesse comer um arroz de leite ou uma “papinha” de bolacha mesmo.

Isso é muito esquisito, talvez se eu ganhasse a vida escrevendo passaria mais tempo no supermercado vendo o que as pessoas compram para me inspirar a criar histórias para cada carrinho de compras. Poderiam sair histórias melancólicas, de pessoas idosas, que moram sozinhas, que compram tudo diet e em pouca quantidade, ou quem sabe daria pra escrever sobre um churrasco feito por jovens, que encheram os carrinhos de carne, sal e cerveja. Como seria esse churrasco? Como seriam os convidados desse churrasco? Dá um pano pra manga isso... E também tem outra coisa, é bem melhor ver o que sai do supermercado do que ver aquilo que vai pro lixo.

Eu o que comprei?! Será que alguém olhou pro meu cesto? Pensa na história, depois me conta. Comprei: um pacote de papel higiênico personal, uma caixa do chocolate Sem Parar, uma bandeja de yogurt Activia, um pacote de biscoito Bono sabor doce de leite, um cream cheese philadelphia e duas latas de tomates sem pele.