24 de dezembro de 2008

Coração

Rifa-se um coração 
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional 
que abre sorrisos tão largos que quase dá 
pra engolir as orelhas, mas que 
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e, 
se recusa a envelhecer" 
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta.

Clarice Lispector

7 de dezembro de 2008

viva os fogos

O mundo é isso – um montão de gente, um mar de foguinhos. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as demais. Não existem dois fogos iguais. Existem fogos grandes e fogos pequenos e fogos de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem se intera do vento, e gente de fogo louco, que deixa o ar cheio de faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumbram e nem queimam; mas outros ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhá-los sem tocar, e quem chega perto, se incendeia.
Eduardo Galeano


2 de dezembro de 2008

Papai Noel

Estou com o espírito natalino. É bem verdade que o dia foi um presente, só coisas boas, entre elas um Papai Noel. Pra quem acha que o velhinho só faz sucesso com as crianças, então eis uma crianças aqui encantada. Estava atravessando a Av. Independência, esquina com a Barros Cassal, ouvindo música no mp3, do outro lado um Papai Noel e duas noeletes distribuiram balas. Chegando ao outro lado, ele veio na minha direção e me deu duas balas e um sorriso. Era um daqueles velhinhos de verdade verdadeira, com barba de verdade, branquinha.
Fiquei surpresa e contente, e comecei a lembrando de outros natais. Minha sempre me conta que quando eu tinha 2 anos fomos na Padaria Brasil lá em NH, tinha Papai Noel lá na frente e ela me levou para coversar com ele e pegar balinhas, também me disse que eu deixei ela toda envergonhada, me grudei com toda a força na barba dela para ver se era de verdade... e não era. É por isso que eu valorizo muito os velhinhos de verdade verdadeira. Também lembrei de um natal na casa dos meus avós, em que o Papai Noel me trouxe de presente uma barraquinha do Sítio do Pica-Pau Amarelo, mas em troca tive que deixar meu bico com ele. Foi uma alegria e uma tristeza né.
Acho que o Papai Noel é importante na vida de toda criança, faz parte da fantasia. Esperamos que ele venha para realizar nossos sonhos. Acho o máximo a campanha dos Correios, onde as pessoas vão lá e pegam uma cartinha que alguma criança escreveu para o Papai Noel, realizam o desejo das cartas e entregam novamente nos Correios para que chegue até a criança o presente que o Noel mandou.

1 de dezembro de 2008

luzes para mim

Amo luzes de natal. Acho que as noites de final de ano ficam tão bonitas com as casas enfeitadas de pequenas luzinhas. Quando era criança me lembro que aproveitavamos as noites quentes de dezembro para passear pelo bairro e ver as casas enfeitadas com as luzes. Uma pena ser cada vez mais raro encontrá-las.
Na frente de minha casa tem um prédio antigo, beeemmm antigo. Da minha janela da sala, quando estou jogada no sofá tenho vista para a cobertura. Essa cobertura tem uma porção de plantas, é muito verde, pelo que consigo ver é um casal de velhinhos que mora lá. Na verdade dificilmente vejo alguém, até porque o verde não permite muito, há algum tempo vi alguém praticando tai chi chuan, achei massa.
Ontem os vizinhos dessa cobertura me presentearam, colocaram um lindo conjunto de luzes enfeitando as plantas, e que eu posso ver do meu sofá. Achei que foi pra mim, ou no máximo para os vizinhos do quarto andar no meu prédio, uma vez que somente nós podemos vê-las iluminando a noite.